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Dot Collector: o sistema de feedback em tempo real para o ambiente de trabalho. É uma boa ideia?

Ojutu
Array | 19 de abril de 2023

A Coinbase, uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo, resolveu testar um sistema de feedback de funcionários em tempo real, chamado de Dot Collector.

Esse sistema é uma invenção de Ray Dalio, uma figura interessantíssima. Se você nunca ouviu falar desse cara, aí vão algumas informações básicas sobre ele. Dalio é um bilionário investidor americano que é Chief Investment Officer do maior fundo de hedge do mundo, a Bridgewater Associates. Poderíamos dizer que, no mundo dos investimentos, Dalio é o equivalente ao que Steve Jobs ou Elon Musk são para o mundo das inovações tecnológicas.

Dot Collector é um software que funciona da seguinte forma: se um colega disser algo que você não gosta, espera-se que você dê um sinal de negativo e sugestões de como ele pode melhorar. Cada funcionário recebe uma tabela de desempenho com uma classificação de 1 a 10. Aqueles com classificações mais baixas são considerados pessoas com menor credibilidade (believability), indicando para seus colegas de trabalho em que medida eles devem levar em consideração suas opiniões.

A proposta do Dot Collector é que, com esse sistema, as equipes de trabalho aprendam com as observações dos feedbacks que são dados ao longo do tempo. Dots ou pontos são micro-feedbacks que são sistematicamente coletados e compartilhados para melhorar o desempenho individual e coletivo. O site do Dot Collector defende que, ao transformar colegas em coaches, o sistema ajuda as equipes a criar uma cultura de desenvolvimento contínuo, ao mesmo tempo em que capacita a colaboração e a inclusão, constrói confiança e cria transparência.

O feedback em tempo real cria, para seus defensores, uma nova e importante dimensão de autocompreensão e capacita os funcionários a ajudarem uns aos outros a alcançar seu maior potencial. O Dot Collector até se tornou disponível para ser utilizado no Zoom, como o própio Dalio anunciou em 2020.

No entanto, cerca de 2 anos depois, o app deixou de estar disponível no Zoom. Não consegui descobrir por quê…

Você achou o Dot Collector estranho? Você se sentiria confortável com uma ferramenta dessas no seu ambiente de trabalho? Scott Galloway, professor de Marketing na NYU Stern, considera o Dot Collector uma decisão estúpida que grandes empresas e indivíduos muito ricos são tão propensos a tomar quanto qualquer outra pessoa.

Uma organização é um meio de alavancar um dos superpoderes de nossa espécie: a cooperação. Esta é uma ferramenta que incentiva a anti-cooperação, ponto final.

De fato, o Dot Collector possui um problema que muitas inovações tecnológicas podem apresentar e que acaba dificultando a sua implementação: aquilo que em inglês é chamado de creepiness, isto é, a qualidade de ser estranho ou antinatural, fazendo as pessoas se sentirem assustadas ou desconfortáveis.

Embora possamos entender a lógica por trás de determinadas inovações e seu potencial de melhoria, muitas vezes quando implementadas de forma ampla, elas são percebidas pelas pessoas como algo estranho, bizarro, fora do comum e que, por isso, causa desconforto.

O desconforto da plateia do TED após a explicação de Dalio sobre como funciona o Dot Collector é evidente. Ele explica que esse software permite que sua empresa tome decisões que não são baseadas em autocracia nem em democracia, mas em algoritmos que levam a credibilidade (believability) das pessoas em consideração. O silêncio é completo. Nenhum aplauso… Dalio, então, completa meio sem graça, “sim, nós realmente fazemos isso”. Seguem alguns risos…

Muitas vezes uma determinada inovação faz sentido apenas na cabeça de quem a criou. Talvez seja esse o caso do Dot Collector. Ou talvez possamos pensar que é necessário um certo tempo para que as pessoas se acostumem com novidades. Embora em alguns casos isso seja verdade, há certas coisas que, mesmo depois de passado certo tempo, são tão estranhas que acabam não pegando, como o Google Glass. Outros, como Galloway, colocam os óculos de realidade virtual nessa mesma categoria: eles tornam você menos atraente e menos útil e adicionam combustível às chamas do isolamento, solidão e depressão que assolam a juventude.

Não dá para entender o Dot Collector fora do contexto do pensamento de Dalio e da cultura que ele criou na empresa que comanda. Isso é descrito no livro Princípios, em que Dalio detalha sua gestão corporativa e sua filosofia de investimento. O livro, segundo o The New York Times, espalha seu “evangelho da transparência radical”.

Alguns princípios que encontramos no livro são:

  • Tenha em mente que você não tem nada a temer por saber a verdade.
  • Seja íntegro e cobre o mesmo dos outros.
  • Crie um ambiente em que todos tenham o direito de entender o que faz sentido e ninguém tenha o direito de manter uma opinião crítica sem se manifestar.
  • Seja radicalmente transparente.
  • Relações e trabalho relevantes se reforçam mutuamente, sobretudo quando apoiados por sinceridade e transparência radicais.

Sim, Dalio é o que costumamos chamar no Brasil de “super sincero”, o que não deixa de ser original para alguém que comanda uma empresa como a Bridgewater. E não há dúvidas de que a empresa foi muito bem sucedida seguindo seus princípios.

Como mostra Adam Grant, no livro Originais: como os inconformistas mudam o mundo. O segredo da Bridgewater é promover a expressão de ideias originais. A empresa é elogiada por suas estratégias de investimento inovadoras, uma das quais envolveu minimizar o risco por meio de um grau de diversificação muito maior do que o dos fundos de investimento típicos. E, na Primavera de 2007, a Bridgewater começou a alertar seus clientes sobre a crise financeira iminente. Ninguém estava mais bem preparado para a quebra do mercado global.

Essa cultura de transparência radical, por permitir o surgimento de formas diferentes de pensar, foi responsável pelo sucesso da Bridgewater no setor super competitivo dos fundos de investimento. Grant explica que:

A Bridgewater evitou o pensamento de grupo estimulando todos os funcionários da companhia a apresentar opiniões divergentes. Quando os funcionários trocam pontos de vista independentes em vez de se conformarem com a maioria, há uma chance muito maior de que a Bridgewater tome decisões de investimento que nunca antes haviam sido consideradas e identifique tendências financeiras sem precedentes.

Dalio leva tão a sério esses princípios que ele mesmo dá o exemplo. Embora seja o fundador da empresa, seus funcionários não se comunicam com ele como se ele fosse uma pessoa especial. Grant transcreve um e-mail que Jim, da área de atendimento, enviou a Dalio depois de uma reunião com um importante cliente em potencial.

Ray você merece uma nota 3 por seu desempenho hoje (…) você tagarelou por 50 minutos (…). Ficou óbvio para todos que não estava preparado para a reunião, porque, se estivesse, não teria se mostrado tão desorganizado quando a conversa começou. Nós dissemos que esse cliente em potencial tinha sido identificado como do tipo que não dá para perder (…). Hoje foi muito ruim… Não podemos deixar isso acontecer de novo.

Ao invés de demitir seu subordinado, Dalio respondeu ao e-mail perguntando aos demais presentes na reunião suas opiniões sinceras e pedindo-lhes uma nota de 10 a 0 para seu desempenho. Em seguida, ele copiou a troca de e-mails para a empresa inteira, para que todos aprendessem com a conversa. Assim, a cultura que Dalio implementou na Bridgewater, e que ele mesmo segue, é de que os funcionários externem suas preocupações e críticas uns aos outros.

Daí fica fácil entender porque Dalio estimula a adoção do Dot Collector, ele realmente acredita nisso.

Ainda que existam pessoas e empresas que vão se interessar em seguir a cultura criada por Dalio, é difícil imaginar que isso se torne a regra nas organizações. Podemos apontar algumas razões para isso.

  1. Creepiness. Por mais que um sistema como esse faça sentido para Dalio e para as pessoas que trabalham na Bridgewater, grande parte das pessoas que trabalham em outros lugares acha isso estranho, considera que seria um ambiente de trabalho muito desconfortável. É difícil dizer que, uma vez adotado esse sistema, essa sensação mudaria com o tempo. Não podemos nos esquecer que a mentira tem um papel nas relações humanas, sempre teve.
  2. Questões trabalhistas. Nos Estados Unidos esse não é um risco tão relevante quanto num país como o Brasil. Mas entre nós, é possível pensar em questões como a licitude do monitoramento do empregado pelo empregador e no risco de tratamento discriminatório.
  3. Justiça algorítmica. Como o Dot Collector funciona a partir de um algoritmo que é alimentado pelos feedbacks que um indivíduo recebe de seus colegas de trabalho, há sempre o risco de que uma pessoa com uma classificação ruim fique presa a essa classificação e não consiga avançar na carreira. Os dados nos quais o algoritmo se baseia refletem o passado, mas as pessoas podem mudar de comportamento, podem melhorar. Essa capacidade humana de mudar é perigosamente esquecida por sistemas como o Dot Collector, fazendo com que o futuro se transforme numa estática, monótona e injusta repetição do passado.

Assim, por mais que Ray Dalio seja um cara brilhante e esteja cheio de boas intenções, é importante que as pessoas e as organizações reflitam criticamente antes de adotar inovações tecnológicas como o Dot Collector no ambiente de trabalho. Algo que funcionou no caso específico da Bridgewater pode não ser a resposta que procuramos para a nossa realidade.

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